A inveja, cuja etimologia remonta ao latim invidia, que significa ‘não ver’, pode ser entendida como uma oportunidade de introspecção e autoconhecimento, pois muitas vezes reflete questões internas e pessoais (in_ veja = veja dentro de você), como um importante convite para autoconhecimento) ainda é um assunto pouco publicado (e discutido) mas, como um sentimento comum do humano, quando não reconhecido tem impactos nas relações sociais, incluindo o ambiente de trabalho. Dentro de cenários extremamente competitivos, isso pode ser potencializado.
“Para sentir inveja, três coisas precisam acontecer. Primeiro, encontramos alguém que tenha algo que desejamos – pode ser uma coisa, uma qualidade ou uma conquista que nós não temos. Segundo, queremos ter esse algo para nós mesmos. E terceiro, nos sentimos “pessoalmente magoados”. Digo “pessoalmente magoados” porque é esta dimensão pessoal que separa a inveja de sentimentos mais desapegados, como indignação ou injustiça.” (1)
Ela pode se manifestar de forma negativa, gerando ressentimento e, em alguns casos, comportamentos destrutivos, como agressão ou exclusão. No entanto, uma maneira eficaz de combater a inveja é transformá-la em admiração. A admiração permite que o sucesso do outro seja visto como uma fonte de inspiração, em vez de uma ameaça. Além disso, fatores psicossociais desempenham um papel importante tanto no surgimento da inveja quanto na vitimização no ambiente de trabalho.
Ao ler o artigo “Workplace Victimization: Aggression from the Target’s Perspective” (2), ele cita alguns comportamentos onde esse sentimento pode ser um dos principais responsáveis:
Ressentimento pelo brilho do outro
Sentimentos de inveja podem surgir de comportamentos altamente competitivos ou ameaças à identidade no local de trabalho. Isso é evidente quando um funcionário sente que seu valor ou status está sendo questionado por outro. Por exemplo, aqueles que ocupam posições de destaque (independente do cargo que ocupa), seja em termos de desempenho ou de relacionamentos no trabalho, podem se tornar alvos de agressão. Estudos indicam que aqueles considerados “estrelas” em suas equipes relatam níveis mais altos de bullying, apesar de serem preferidos para colaboração.
Ameaças à identidade
Quando um indivíduo sente que sua competência ou valor está sendo desafiado. Funcionários que demonstram habilidades superiores podem inadvertidamente provocar sentimentos de inferioridade em seus colegas, não se restringindo a posições de destaque, levando-os a reagir de forma agressiva (mesmo que implicitamente). A inveja pode se disfarçar de hostilidade ou agressão social, já que o sucesso de um colega é percebido como uma ameaça ao próprio status ou autoestima.
Comportamento Cidadão
Ser altruísta pode despertar micro agressões. Isso ocorre especialmente quando esses comportamentos contrastam com os de seus colegas. A disposição em cooperar ou auxiliar pode incomodar muito, levando alguns a retaliar com agressividade aqueles que parecem se destacar por sua atitude positiva.
Competição
Ocorre em ambientes de trabalho muito competitivos ou altamente estressantes, em que alguns indivíduos se destacam, seja pelo desempenho ou pela cooperação. As micro agressões podem, muitas vezes, ser uma resposta ao sucesso percebido de um colega, mesmo que de maneira indireta.
Fatores Psicossociais
O artigo destaca que vítimas de agressão tendem a ocupar posições hierárquicas mais baixas ou são socialmente isoladas. A percepção de injustiça ou conflitos de papéis também aumenta a vulnerabilidade e, associados a climas organizacionais muito tensos, são fatores que podem aumentar o ressentimento entre os funcionários. Além disso, a ausência de uma liderança forte ou clara, como líderes autoritários ou que adotam um estilo laissez-faire (3) em determinadas culturas ou times, facilita o surgimento de conflitos e agressões, já que a falta de resolução de problemas agrava a frustração.
Da in_veja a admiração
Transformar a inveja em admiração é uma das estratégias mais importantes para criar e manter um ambiente de trabalho mais saudável e colaborativo.
Enquanto a inveja tende a gerar hostilidade e ressentimento, a admiração abre caminho para uma postura construtiva e positiva. Ao aprender e se alegrar com o sucesso ou as qualidades de um colega, o indivíduo se coloca em uma posição de aprendizado. Em vez de comparar-se desfavoravelmente, a pessoa pode buscar entender o que pode aprender e como pode melhorar suas próprias habilidades.
“Eu não tenho ídolos. Tenho admiração por trabalho, dedicação e competência.” — Ayrton Senna
A inveja, quando não gerida, pode se transformar em comportamentos prejudiciais no ambiente de trabalho, como a agressão e a vitimização de colegas. Fatores psicossociais, como isolamento, conflitos de papéis e liderança ineficaz podem contribuir, em algumas pessoas, para o aumento da agressividade relacionada à inveja. Ao reconhecê-la e substitui-la, em cada contexto vivido, pela admiração e, ao criar e manter um ambiente de apoio mútuo e aprendizado, é possível promover um local de trabalho mais harmonioso e produtivo.
Desenvolvendo os 3As
Transformar a inveja em admiração requer o desenvolvimento do que eu denomino os 3As: autoconsciência para reconhecer os próprios sentimentos, autoconhecimento para entender suas origens, e autorresponsabilidade para agir de maneira proativa e construtiva. Essas práticas fortalecem as relações de trabalho e promovem um ambiente mais colaborativo e harmonioso.
Referências:
1- A psicologia da inveja (ivanapsicologia.com)
2- Aquino, K., & Thau, S. (2009). Workplace victimization: Aggression from the target’s perspective. Annual Review of Psychology, 60, 717-741.
3 – Liderança liberal: o que é, vantagens, desafios e exemplos (fia.com.br)
4 – Neves, P., & Eisenberger, R. (2012). Perceived organizational support and risk-taking. Journal of Managerial Psychology, 27(8), 797-817.
5- https://citacoes.in/topicos/admiracao/
6 – Conquistando o Respeito no Ambiente de Trabalho – Antes de Morrer
7 – Inveja: por que sentimos e como lidar – Mina (uol.com.br)
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