O impacto da Saude no fortalecimento da Reputação Corporativa

Qual o impacto sobre a produtividade quando o empregador deixa claro que ele se importa, verdadeiramente, com o bem-estar das pessoas?

Essa é uma resposta que os “cientistas esperam responder nos próximos dez anos” (1), afinal, é muito importante para a vida e para os negócios o como as pessoas nos percebem e essa é uma questão que, sob a perspectiva cientifica, tem gerado muito debate. As apostas variam entre “5% a 10% de incremento na produtividade” (por se sentirem física e psiquicamente capazes e motivados) ao saberem que seu “empregador está emocionalmente engajado, preocupado com seu bem estar”. (2)

Por que a saúde importa para os negócios

A figura a seguir ilustra um modelo sistêmico que interliga saúde, produtividade e lucro no contexto corporativo. No cerne deste modelo, a produtividade atua como um elo entre o bem-estar dos colaboradores e os resultados financeiros da empresa. O lucro, objetivo final, é afetado positivamente pela produtividade dos funcionários. Esta, por sua vez, é influenciada por três fatores-chave: a condição física e emocional dos colaboradores, que determina sua capacidade e vontade de trabalhar; a gestão da saúde e bem-estar no local de trabalho, que inclui a prevenção e tratamento de doenças, bem como o apoio ao empregado; e o clima organizacional, que enfatiza a importância de relações interpessoais saudáveis e um ambiente positivo.

O absenteísmo e o presenteísmo são apresentados como dois desfechos contrários ligados à saúde dos colaboradores, ambos impactando a produtividade. Essa representação destaca a importância de uma abordagem holística à saúde no trabalho, enfatizando que o investimento no bem-estar dos funcionários é diretamente proporcional à rentabilidade e sucesso empresarial.

Figura 1 – Mecanismos de ligação entre saúde, produtividade e lucro (1)

É indiscutível, portanto, o alicerce da saúde para o atingimento de bons resultados nos negócios. Estar bem, sentir-se satisfeito com a vida (e isso não significa ausência de doença ou de necessidades a serem atendidas) a partir de uma integridade física, emocional, mental, espiritual, social é determinante para a construção de relacionamentos mais saudáveis, consequentemente favorecendo a um bom clima organizacional e que, fatalmente, levará a níveis mais desejados de performance. Portanto, o entendimento e a gestão dos riscos à saúde, vinculados às competências individuais, desempenham um papel determinante na produtividade e, consequentemente, no sucesso financeiro.

O desempenho humano é maior quando as pessoas são fisicamente e emocionalmente capazes de trabalhar e têm o desejo de trabalhar. Níveis mais altos de desempenho levam a níveis mais elevados de produtividade, que por sua vez pode elevar o lucro. Programas de promoção da saúde desempenham um papel fundamental neste modelo, porque eles podem melhorar a saúde, reduzindo os riscos de saúde, ajudando a gerenciar doenças controláveis, e reduzindo o consumo de substâncias que alteram o humor… Este modelo também afirma que um melhor clima organizacional e níveis de lucro mais elevados reduzem diretamente os riscos à saúde.” (2)

Do que adoecemos e nos afastamos

Embora essa dinâmica se pareça simples de compreender e aparentemente fácil de gerenciar, ainda adoecemos no nosso país, especialmente das doenças crônicas não transmissíveis. Dados do Vigitel Brasil 2023 revelam seus principais fatores de riscos (na sua maior parte, modificáveis): hábitos alimentares adequados, prática de atividades físicas, uso de telas, realização de exames preventivos de alguns tipos de câncer, uso nocivo de álcool, tabagismo, além de abordar DCNTs já instaladas, como diabetes e hipertensão. (6)

Ao avaliarmos os afastamentos previdenciários por benefício comum, por outro lado, é observada prevalência de transtornos osteomusculares, neoplasia e transtornos mentais com tendência de crescimento. Os benefícios por acidente de trabalho, encontram-se os eventos ortopédicos seguido dos transtornos mentais. Smartlab – Retrato de Localidade – Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (smartlabbr.org) (7)

Qual a relação dos riscos a saúde com a produtividade?

O que os estudos científicos revelam é que: “À medida que o número de riscos para a saúde aumentava, a produtividade dos funcionários diminuía” (2) Quando não estamos bem física e/ou mentalmente ou não implementamos programas de saúde que gerenciam os riscos para as variáveis adequadas, o impacto direto se dá no “pensamento criativo, negociação, seus esforços para motivar as pessoas, planejamento estratégico, bem como qualquer outra atividade desafiadora”. (2)

Mesmo que no Brasil as empresas regidas pela CLT – Consolidação das Leis do Trabalho realizem os exames médicos ocupacionais, reside nesse momento uma grande oportunidade em mapear os riscos a saúde e oferecer soluções estruturadas com visão integral e alinhados a um firme compromisso com a prevenção e construção de uma cultura de saúde dentro da organização, pilar fundamental para a consolidação de objetivos de longo prazo e, consequentemente, promoção do senso de pertencimento e bem estar das pessoas. Ou seja, estamos falando de reputação empresarial.

Sobre reputação corporativa

A reputação corporativa, um ativo intangível e influente, é vital para o sucesso e a percepção de uma empresa no mercado. “Uma sólida reputação atrai os melhores talentos”, como ressaltado por Daniel Medina (8), e é “moldada por crenças e expectativas dos stakeholders, sendo um indicador crítico do risco reputacional”. A pandemia evidenciou o valor do bem-estar, elevando a saúde como uma demanda crescente entre os consumidores, que agora veem isso como um reflexo da responsabilidade e do caráter corporativo.

Reputação importa?

A relevância da reputação é tão significativa que, segundo uma pesquisa global da Weber Shandwick em colaboração com a KRC Research (5), executivos atribuem mais da metade do valor de mercado de suas empresas à reputação. Isso destaca que uma série de elementos, da qualidade do produto à responsabilidade social, contribui para a estatura reputacional de uma empresa.

Inspirado pelo Global RepTrak100 (3) e, a partir de seus estudos, Daniel Medina (8) compreende que os fatores que impulsionam a reputação abrangem desde a qualidade dos produtos e serviços até a governança corporativa, satisfação do colaborador, gestão eficaz, propósito corporativo, e práticas de sustentabilidade e inovação. Estes componentes não apenas reforçam a imagem da empresa, mas também solidificam sua posição no mercado como líder respeitável e confiável. Portanto, cultivar uma reputação robusta é indispensável para qualquer organização que almeje sucesso duradouro e impacto significativo.

Definitivamente, a “reputação é o principal elementos dos valores intangíveis de uma empresa.”, reforça.(8)

Foto 3 – Critérios de avaliação Global Rep Trak 100

Isso é ratificado pela pesquisa Reputation and Its Risks (4) que revela “ A reputação geral de uma empresa é uma função de sua reputação entre seus diversos stakeholders (investidores, clientes, fornecedores, funcionários, reguladores, políticos, organizações não-governamentais, comunidades nas quais a empresa opera) em categorias específicas (qualidade do produto, governança corporativa, relações com funcionários); (Atendimento ao cliente, capital intelectual, desempenho financeiro, tratamento de questões ambientais e sociais). Uma reputação forte e positiva entre as partes interessadas em diversas categorias resultará em uma reputação forte e positiva para a empresa em geral.”

Construindo uma empresa com uma Cultura de Saude – Reputável

Ao responder a algumas dessas questões listas abaixo (1), a empresa poderá saber se está no caminho sólido para ser reconhecida como um lugar onde o bem estar é um valor que é perseguido e percebido pelas pessoas

·         Essa empresa é um lugar onde as pessoas são orientadas para a saúde?

·         Os líderes demonstram escolhas saudáveis em seu próprio comportamento?

·         Os comportamentos não saudáveis estão servindo de modelo por engano?

·         As pessoas têm o tempo, espaço e os equipamentos de que necessitam para adoptar estilos de vida saudáveis?

·         O comportamento não saudável é desafiado?

·         As práticas positivas são prejudicadas por meio de recompensas para escolhas não saudáveis?

·         Existem tradições antigas que podem ser ajustadas de forma que não prejudiquem o bem estar?

Em última análise, as organizações são tecidas pelas pessoas e para as pessoas, onde conselheiros desempenham um papel crucial em lembrar e assegurar que a saúde e o bem-estar sejam percebidos não apenas como um benefício, mas como um valor intrínseco que permeia todas as decisões e ações corporativas. Este é o caminho para empresas não só prosperarem, mas também serem reconhecidas como entidades que genuinamente priorizam e promovem a saúde e o bem-estar de seus colaboradores. E, o lucro, o resultado de seu propósito colocado em ação!

Bibliografia

  1. O’Donnell M. Editor ‘s Notes: Building health promotion into the national agenda. Am J Health Promot. 2000;14:3
  2. Alberto J N Ogata (Autor), Michael P O’Donnell (Autor). Promoção de Saude no Ambiente de Trabalho. Createspace Independent Publishing Platform; 4ª edição (20 julho 2015)
  3. Global RepTrak100https://ri.reptrak.com/2023-global-reptrak
  4. Eccles, R., Newquist S., Schatz, R. Reputation and Its Risks. https://hbr.org/2007/02/reputation-and-its-risks
  5. The State of Corporate Reputation in 2020: Everything Matters Now. https://webershandwick.com/news/the-state-of-corporate-reputation-in-2020-everything-matters-now
  6. Vigitel 2023. https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/vigitel/vigitel-brasil-2023-vigilancia-de-fatores-de-risco-e-protecao-para-doencas-cronicas-por-inquerito-telefonico/view
  7. Observatório de Saude e Segurança no Trabalho. Smartlab – Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (smartlabbr.org)
  8. Board Academy Br (Aula ministrada no CES em 15/02/2024 – Fundamentos da Governança Corporativa – Daniel MedinaHélio Osmo )

Foto: rawpixel em freepik