
Em um mundo corporativo que exige cada vez mais habilidades dos profissionais que, de acordo com Fórum Econômico Mundial 2023 (1), são pensamentos crítico e analítico, alfabetização tecnológica, curiosidade e aprendizado ao longo da vida, resiliência, flexibilidade e agilidade, a idéia de despertar a amorosidade pode parecer estranha, piegas ou até mesmo inconveniente. A sua prática no ambiente de trabalho tem um impacto significativo na saúde emocional e física dos colaboradores, e consequentemente, nos resultados da própria empresa.
Entenda porque:
“A amorosidade se configura, por meio do vínculo, na confiança mútua, na parceria, na esperança de que juntos conseguiremos conquistar os sonhos almejados coletivamente” (1) pois ela se reflete na qualidade das relações, positivas, que estabelecemos nas relações interpessoais.
Estudos mostram que a falta de apoio emocional está diretamente relacionada a problemas de saúde, como destaca Daniel Goleman: “Entre os homens submetidos à angiografia como parte do tratamento para a doença coronariana, aqueles que receberam menos apoio de entes queridos tinham 40% mais obstruções do que os que tinham relações mais afetuosas”. (3) de forma que, as relações crônicas, sustentadas em relacionamentos denominados “tóxicos”, abusivos, são um fator de risco comprovados para o adoecimento físico e mental.
“A qualidade do relacionamento influencia positivamente a autoavaliação da saúde (quanto maior a qualidade, mais bem avaliada a saúde), ao mesmo tempo que influencia negativamente a experiência de queixas de saúde (quanto maior a qualidade, menos queixas).” (4)
E age nos negócios. “Relacionamentos positivos no trabalho são fundamentais para a satisfação individual, bem como para o desempenho da equipe e da organização.” (5)
A ciência nos mostra que a amorosidade tem efeitos biológicos positivos. A ocitocina, conhecida como o “hormônio do amor”, é liberada em interações afetuosas, melhorando o bem-estar geral. Vários autores sugerem que “a presença de pessoas queridas pode desencadear a liberação de ocitocina, proporcionando uma sensação de bem-estar simplesmente por estarmos perto delas ou até mesmo ao pensarmos nelas.
Nos ambientes de trabalho, essa prática pode ser evidenciada na decoração pessoal dos espaços de trabalho com fotos de entes queridos, promovendo um ambiente mais acolhedor e menos estressante.” (3) E esse efeito tem impacto direto na predisposição para a colaboração, sendo, portanto, uma simples e boa prática.
É evidente que conflitos ocorrem no ambiente de trabalho. No entanto, o objetivo é superá-los o mais rapidamente possível e de maneira construtiva através de um clima verdadeiramente amistoso, utilizando inteligência emocional e foco em sustentabilidades humana e financeira. Uma cultura corporativa baseada na amorosidade não só melhora a qualidade de vida dos colaboradores, mas também contribui para a longevidade e o sucesso das organizações. E há estudos que quantificam a variação da produtividade (entre 10% a 20%), a depender se o humor dos profissionais está bom ou ruim. (6). O cuidado e risco está em transformar esse conhecimento em mais uma ferramenta de controle; o que é um grande desvio de finalidade.
Sempre é importante lembrar o quanto a percepção dos cuidados com a saúde importa para as pessoas. “Um maior apoio à saúde no local de trabalho percebido está independentemente associado a uma maior produtividade no trabalho” indicando que os programas de bem-estar podem melhorar a produtividade através de melhores percepções do apoio à saúde no local de trabalho. (7) e o suporte percebido à saúde no local de trabalho está associado diretamente à produtividade dos funcionários. (8)
Embora possa parecer contraintuitivo, a amorosidade é um componente essencial para um ambiente de trabalho saudável e produtivo. E, o médico, ao atuar como mediador e promotor de boas práticas emocionais, desempenha um papel vital nessa transformação pois atua como um interlocutor entre funcionários, líderes e empresários identificando e reduzindo os estressores emocionais.
Com essa visão, ao fomentar relações positivas, as empresas possuem a oportunidade de não apenas cuidar da saúde de seus colaboradores, mas também investirem em seu próprio sucesso a longo prazo. Promover a amorosidade é, portanto, uma estratégia inteligente e sustentável para qualquer organização. Mesmo que ela venha nominada de outras formas.
Referências:
(1) https://forbes.com.br/carreira/2023/02/as-top-10-habilidades-para-desenvolver-ate-2030/
(2) Rev. APS. 2018; out./dez.; 21 (4): 608 – 634
(3) Goleman, Daniel, 1946- Inteligência social [recurso eletrônico] : o poder das relações humanas / Daniel Goleman ; tradução Ana Beatriz Rodrigues. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2011.
(4) Szostek, D. e Lapinska, J. (2020). O Impacto da Qualidade das Relações Interpessoais no Trabalho na Autoavaliação do Bem-Estar Psicossomático: Resultados de um Estudo com Funcionários na Polónia. Jornal Europeu de Estudos de Pesquisa , 428-442. https://doi.org/10.35808/ersj/1770 .
(5) Langley, S. (2012). Relacionamentos Positivos no Trabalho., 163-180. https://doi.org/10.1007/978-94-007-2147-0_10 .
(6) Kovalev, V. (2014). Efeito das Relações Interpessoais na Qualidade das Atividades Conjuntas em Coletivo. Pré-impressões do EconStor . https://doi.org/10.2139/SSRN.2532000
(7) Chen, L., Hannon, P., Laing, S., Kohn, M., Clark, K., Pritchard, S., & Harris, J. (2015)
(8) American Journal of Health Promotion , 29, 139 – 146. https://doi.org/10.4278/ajhp.131216-QUAN-645 .
